sexta-feira, 1 de maio de 2009

Gripe Suína ou Gripe A: como o Fisioterapeuta pode ajudar?

Atente bem para estes sintomas: febre alta, dores nas juntas (artralgia), dores musculares (mialgia), coriza, falta de apetite, tosse, garganta seca e moleza (letargia). São os sinalizadores clínicos da gripe suína. E não se assuste se forem velhos conhecidos seus, pois muito provavelmente, em algum momento de sua vida, você já esteve ou estará gripado. Isso mesmo: os sintomas da gripe suína e da gripe comum são exatamente idênticos.
O grande problema é que, excetuando-se o tempo de duração ou persistência sintomática, que é maior na primeira, o diagnóstico só poderá ser diferenciado com exames laboratoriais específicos. Até mesmo na hora da seleção daqueles pacientes que serão ou não internados, leva-se em conta, nesse primeiro momento, o critério epidemiológico, ou seja, se os doentes são ou não provenientes de áreas endêmicas, onde casos já tenham sido efetivamente confirmados.
A variante A/H1N1 do vírus influenza tem levado a Organização Mundial da Saúde (OMS) a designar a doença como "gripe A" ao invés de "gripe suína", no afã de se tentar retirar a desnecessária atmosfera pejorativa que se criou em torno do consumo da carne de porcos.
Mas, se os sintomas são exatamente os mesmos, por que então devemos nos preocupar com um eventual contágio? A resposta remete ao início da estória: o maior tempo de duração sintomática, que por sua vez é devido ao não reconhecimento imediato da nova variante viral pelo nosso sistema de defesa, faz com que estejamos mais expostos às complicações características de um estado gripal prolongado, tais como pneumonias, otites, sinusites, rinites e bronquites. Esses desdobramentos com afecções respiratórias, notadamente a pneumonia, são os que podem levar o portador da gripe A ao óbito, numa frequência até então reportada como sendo de 6% no México, contra 0,5% de mortalidade da gripe comum.
Os quadros pneumônicos são causados por bactérias que colonizam as vias respiratórias hiper-congestionadas por catarro (muco) e podem levar às complicações ditas para-pneumônicas, como acúmulo de líquidos entre as membranas que revestem os pulmões (derrame pleural) ou a perda da pressão negativa que sustenta os pulmões na cavidade torácica (pneumotórax). Tais complicações podem ocasionar a falência súbita do sistema respiratório, cujas consequências são a parada cárdio-respiratória e, eventualmente, a morte.
O excesso de acúmulo ou déficit de eliminação catarral são os fatores preponderantes para o desenvolvimento das pneumonias. Por isso é que indivíduos dos extremos etários como crianças e idosos, portadores de AIDS, doenças cardíacas e neuro-degenerativas progressivas, câncer, diabetes, asma, problemas pulmonares ou aqueles imunodeprimidos estão mais susceptíveis a um pior prognóstico.
O fisioterapeuta domiciliar é disposto de arsenal terapêutico e conhecimento de técnicas que auxiliam enormemente na prevenção e tratamento dos desdobramentos acima descritos, evitando que um estado gripal persistente evolua para uma pneumonia. Para tanto, lança mão de manobras de higiene brônquica e reexpansão pulmonar (FIGURA 1), exercícios de padrão respiratório ou aparelhos de vibração intermitente intra-torácica (FIGURA 2) ou em casos mais extremos, do procedimento invasivo de aspiração traqueal (FIGURA 3), ajudando na eliminação facilitada das secreções pulmonares e traqueo-brônquicas que servem de substrato para a proliferação bacteriana.


FIGURA 1 - Manobra de vibrocompressão torácica associada à terapia de expansão pulmonar (© 2004 Hospital Monte Sinai).


FIGURA 2 - Utilização de aparelho de oscilação intra-torácica de alta frequência (© Fisioterapia Respiratória - UNESP).


FIGURA 3 - Aspiração traqueal (© Fisioterapia Respiratória - UNESP).

Tente não rir se seu fisioterapeuta domiciliar estiver parecendo o "pato Donald" quando lhe atender. Ele estará paramentado com um tipo de máscara de proteção nasal e oral chamada N95 (FIGURA 4), composta de 7 camadas que garantem proteção efetiva em situações de risco contra a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave ou Pneumonia Asiática), esporos da tuberculose ou outros aerodispersóides, como também é o caso do vírus da gripe suína. Esse protetor facial é vulgarmente conhecido como máscara "bico-de-pato", mas pode encontrar-se confeccionada em outros formatos, sendo suficiente apenas que tenha a certificação N95. É bem mais cara que a convencional máscara cirúrgica. Enquanto essa última sai pelo preço de 50 centavos cada, aquela chega a custar R$ 10,00 a unidade. Todavia, as bicos-de-pato são as únicas que proveem segurança real contra a contaminação via gotículas respiratórias dispersas no ar, ao contrário das cirúrgicas que, para a gripe suína, só servem para os mais incautos e afobados aparecerem na TV e debalde acreditarem que assim possam reter vírus A/H1N1, esses microorganismos que medem ínfimos 80 a 120 nanômetros (milionésimos de milímetro) de diâmetro. Se você for suspeito ou convive com pessoas sob suspeição de terem contraído o vírus, portanto, vale a pena "pagar esse mico". Ou melhor, "pato".


FIGURA 4 - Máscara N95, para proteção contra microorganismos aerodispersóides (© DIBRAX, Comercial Ltda.).

Trocadilhos à parte, é claro que tais medidas não eximem o suspeito portador de um estado gripal persistente (acima de 48h) de consultar um infectologista, para que se estabeleçam condutas medicamentosas visando ao controle amplo dos sintomas, eventualmente com a utilização de antibioticoterapia específica para os casos que cursam com pneumonia. Porém, em tempos como o que vivemos, quando a humanidade inexoravelmente terá de se adaptar a essa nova variante viral, a prevenção de complicações poderá significar a diferença entre a recuperação ou não dos novos portadores que inevitavelmente surgirão.